O sociólogo e professor Manuel Lisboa, da Universidade Nova de Lisboa,
relaciona a violência contra as mulheres como um atavismo cultural forte, que
tenta codificar até mesmo a relação entre pessoas do mesmo sexo.
A afirmação foi feita em aula ministrada na Cátedra
UNESCO de Leitura, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio).
Lisboa, que participou de banca de doutorado no curso de
Letras da PUC-Rio, é licenciado, mestre e doutor em Sociologia pela Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Além dessa
formação, é especializado em Sociologia das Organizações, Sociologia do Gênero
e da Vida Privada, e Metodologia de Investigação Sociológica.
Segundo ele, seu país é um exemplo de como “foi possível
passar de um lugar tradicional e conservador, até 1974, para um país que adota
políticas de igualdade de direitos para as mulheres a partir dos anos 80”.
O sociólogo relaciona o tema da violência contra as
mulheres com a violência no âmbito dos direitos humanos. Afirma categoricamente
que ela não é estrutural, mas conjuntural, mesmo que essa noção seja combatida
nos domínios jurídicos e policiais. Ele reforça o argumento dizendo que “até a
procura das causas que produzem e reproduzem a violência e intervenção situa-se
mais na prevenção”.
Lisboa disse que a investigação científica desempenhou um
papel fundamental, descobrindo que o fenômeno é holístico. Por essa razão,
dimensões separadas do mesmo fenômeno não dão conta. Informou que o primeiro
estudo de âmbito nacional sobre a violência contra as mulheres em Portugal é de
1995, desenvolvido por uma equipe de investigação da Universidade Nova de
Lisboa.
Entre as descobertas está que uma a cada duas mulheres é
vítima de pelo menos um ato de violência física, psicológica e/ou sexual. Que a
grande maioria dos atos ocorre no espaço familiar da casa. Que só menos de 1%
das vítimas recorre à polícia e aos tribunais, mesmo que a legislação a partir
de 1991 penalize grande parte dos atos. E que a vitimização em geral é
transversal a todos os estratos sociais e faixas etárias.
Há ainda estudos da década de 2000 mostrando a violência
extrema, detectada nos Institutos de Medicina Legal, que tem a incidência dos
custos da violência sobre a família, na atividade profissional, na saúde e na
educação.
Foi feita a comparação dessa violência de homens contra
mulheres, detectando suas causas socioculturais. Segundo ele, os Institutos de
Medicina Legal mostram que as trajetórias da violência podem vir desde a fase
do namoro e, consequentemente, os filhos são vítimas diretas. Mais de 90% dos
filhos assistem à agressão contra as mães.
Já existem cálculos estimativos dos custos individuais da
violência entre familiares e amigos, e colegas de profissão, com danos à saúde
física e psicológica, e efeitos sobre o processo educativo. Segundo Lisboa, a
combinação desse conjunto de evidências demonstra as causas socioculturais da
violência e que a violência contra mulheres é de gênero.
O professor apontou que o local mais frequente da
violência são a casa, locais públicos e de trabalho. A pesquisa revelou que os
opressores agem segundo os modelos mais ‘estereotipados’ da masculinidade.
FONTE: Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)

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