Com base nos números do
último Censo, as avaliações sobre o crescimento evangélico no Brasil divergem.
Eufóricos preveem que em 2020 esse segmento religioso representará 52,2% da
população brasileira. Outros situam o teto máximo de crescimento em 35%.
A Missão Internacional Servindo aos Pastores e Líderes
(Sepal) assinala que o Brasil passa por um avivamento espiritual e tem uma
visão otimista a respeito do crescimento dos evangélicos. O evangelismo
aguerrido, a adoção de regras menos rígidas, a flexibilização dos costumes e a
ampliação da visão evangélica na sociedade são fatores que o pesquisador Luiz
André Bruneto, do Sepal, arrola para justificar esse crescimento.
Alinhado
com o sociólogo da religião Paul Freston, da Universidade de São Carlos, o
bispo emérito metodista Paulo Ayres Mattos, pesquisador do pentecostalismo,
afirma que o crescimento evangélico atingirá o seu ápice ao se estabilizar por
volta dos 35% da população brasileira.
O
Censo de 2010 revela a diminuição do ímpeto do crescimento evangélico na última
década comparado ao crescimento do período anterior. "De 1991-2000 os
evangélicos em geral cresceram cerca de 120%; na década de 2001 a 2010, os
evangélicos cresceram aproximadamente 62%", comparou Ayres Mattos em
entrevista concedida ao Instituto Humanitas (IHU) da Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (Unisinos).
O
que mais chamou a atenção desse pesquisador do pentecostalismo é a diminuição
pela metade do ímpeto do crescimento institucional dos evangélicos, o aumento
dos evangélicos sem igreja e dos brasileiros sem religião. "O que me
parece estar ficando mais claro na sociedade brasileira é o desencantamento de
muitas pessoas com as religiões institucionalizadas", avaliou.
Ele
credita a queda do ímpeto de crescimento evangélico a motivos exógenos, outros
nem tanto. A sociedade brasileira, analisa, passa por transformações sociais
que possibilitam às pessoas resolverem seus problemas recorrendo a meios mais
racionais, sem apelar para recursos milagrosos.
Um
outro fator que menciona, mas que ainda carece de comprovação, são os
escândalos envolvendo grandes e pequenos líderes pentecostais. Depois, muitos
crentes começam a se decepcionar com as promessas de cura, de enriquecimento,
não cumpridas.
As
pessoas têm mais liberdade, hoje, "para escolher e combinar diversas
opções em seu próprio cardápio religioso, como num balcão de comida a
quilo", uma espécie de "privatização" do religioso.
O
pentecostalismo contemporâneo modificou de modo radical sua escatologia e vai
na contramão do pentecostalismo clássico, que via o maligno presente no
mundo, que é mau e precisa de Cristo para arrebatar os crentes para o céu.
Hoje,
o pentecostalismo afirma que a sociedade de consumo é boa, que ela tem lugar
para todos, que o mundo não é um lugar maldito, mas está cheio de bênçãos que
devem ser possuídas aqui e agora, compara Ayres Mattos.
A
difusão dessa "ideologia" tem na mídia evangélica um proclamador por
excelência e tem influenciado, inclusive, o setor carismático da Igreja
Católica. O teólogo Paulo Suess, no entanto, alerta: "Missas e ministros
midiáticos, alinhados a padrões de marketing, podem destruir o sagrado".
Do
lado evangélico também vem um forte ponto de exclamação. A maioria da liderança
evangélica brasileira está despreparada e carece de direção na teologia,
eclesiologia e missiologia, admoesta Luis André Bruneto.
FONTE: Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)
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