A reforma da igreja segundo as Escrituras é um processo contínuo: “Ecclesia reformata reformanda est”.
Textos bíblicos sugeridos: Romanos, 11.6; Tito,2.11
A frase acima significa: “Tendo sido
reformada, a igreja ainda continua sendo reformada”. Tal declaração é
decorrente do fato de que as Escrituras constituem um padrão absoluto e
perfeito, enquanto a igreja, em qualquer momento de sua história na terra, ainda
é imperfeita e está envolvida em pecado e erro. Esse processo de reforma deve
ser contínuo até o fim dos tempos. Em nenhum momento antes disso, a igreja pode
parar e dizer: “Chegamos. Não temos mais para onde avançar!”. Somente no céu é
que a igreja triunfante poderá fazer tal declaração.
O processo de reforma apresenta certos estágios
históricos e marcos relevantes do progresso alcançado. Um exemplo disso são os
credos históricos da igreja, e os símbolos de fé, como a Confissão de Fé de
Westminster, que marcam um progresso verdadeiro na reforma eclesiástica.
As
informações aqui na terra são sempre incompletas
Não poderemos jamais considerar esse processo
concluído em nossa época ou em qualquer momento da história da igreja. A
doutrina, a adoração, o culto, a disciplina, as atividades missionárias, as
instituições educacionais, as publicações e a vida prática da igreja devem ser
reavaliadas para retornarmos às Escrituras, quando delas nos afastamos. A
reforma sempre foi, por uma questão de necessidade, um processo gradativo. Os
entusiastas procuram realizar tudo de uma só vez, mas nunca são bem-sucedidos.
Deus opera por meio de um processo histórico gradativo e contínuo e devemos nos
adequar à forma da operação divina.
A
reforma eclesiástica segundo as Escrituras requer autocrítica
Existe uma necessidade de avanços no estudo das
Escrituras e de uma autocrítica minuciosa que promova o retorno quando
constatados erros. Nossa posição deve ser avaliada e reavaliada com freqüência
à luz da Bíblia. Trata-se de algo claro em nossa Confissão, de que somente as
Escrituras são infalíveis. Então, todo o resto deve ser testado repetidamente
pelas Escrituras (I.IV).
Esse conceito se aplica à sua vida, suas programações,
atividades, instituições e publicações. Tudo deve ser avaliado e reavaliado à
luz da Palavra de Deus. Essa autocrítica da parte da igreja é o equivalente
corporativo à introspecção à qual Deus convida todos os cristãos como
indivíduos por meio de sua Palavra.
É
necessário ser absolutamente fiel às Escrituras
A autocrítica da igreja não é um exercício simples.
Exige esforço, inteligência, aprendizado, sacrifício, grande humildade,
abnegação e a mais absoluta honestidade.
Requer, ainda, fidelidade às Escrituras, uma
fidelidade disposta a fazer tudo o que for necessário para retornar à Palavra
de Deus – uma lealdade radical.
Essa autocrítica da parte da igreja pode ser
desagradável e até mesmo dolorosa. Pode significar que a igreja, como o
Peregrino de Bunyan, tomou a trilha errada e terá de se humilhar e percorrer, a
duras custas, o caminho de volta para a estrada principal. Tal exercício também
pode ser devastador para os interesses ou projetos especiais de certos
indivíduos ou grupos da igreja. Pode demonstrar que certas características dos
padrões, da vida ou dos programas da igreja não estão em total harmonia com a
Palavra de Deus e devem ser reconsideradas e conciliadas com a Palavra.
As
reformas passadas foram realizadas por meio da autocrítica
Por esses motivos e outros semelhantes, a autocrítica
por parte da igreja costuma ser deixada de lado e até mesmo objetada. Aqueles
que a defendem ou procuram realizá-la serão, quase certamente, considerados
extremistas, fanáticos, entusiastas, visionários, agitadores e outras coisas do
gênero. No entanto, foi por meio dessa autocrítica que se deram as reformas do
passado. Homens como Lutero, Calvino e Knox se preocuparam apenas com o
julgamento de Deus em sua Palavra. Não foram detidos pelos julgamentos adversos
e atitudes de homens.
A igreja se mostrou mais próxima do ideal e mais
influente no mundo nas ocasiões em que ousou olhar para si mesma no espelho da
Palavra de Deus com toda honestidade. Foi nesses momentos que avançou com nova
vida e vigor. Por outro lado, quando hesitou ou recusou olhar para si mesma de
modo atento e honesto no espelho da Palavra de Deus, a igreja se mostrou fraca,
estagnada, decadente, ineficaz e sem qualquer influência.
A autocrítica denominacional constante baseada nas
Escrituras é nosso dever. Mas até que ponto é levado a sério? Quanto zelo,
preocupação – e, diria até, tolerância –, existe para tal avaliação nos dias de
hoje?
Portas
fechadas para a reforma
Todas as igrejas apresentam uma tendência constante de
considerar normal e correta a situação presente. Assim, aquilo que, na realidade,
não passa de costume, tem praticamente a força e influência de princípio; ao
mesmo tempo, questões de princípio são tratadas como se não passassem de
convenções ou costumes humanos, investidos apenas da autoridade conferida pelo
uso ou aprovação popular. A sanção do uso corrente é considerada suficiente
para definir algo como correto, legítimo e até mesmo necessário. Por outro
lado, a ausência de tal uso é tida como suficiente para provar que algo é
errado e impróprio. Esse tipo de estagnação, essa atitude de considerar a
situação atual como sendo normal, fecha as portas para todo progresso autêntico
na reforma da igreja. Isso porque o estado atual é sempre pecaminoso, está
sempre aquém dos requisitos da Palavra de Deus e daquilo que Deus exige, de fato,
da igreja. Uma vez que a situação atual é pecaminosa, não pode jamais ser
considerada com complacência e, muito menos, ser julgada ideal para a igreja. É
pecado transformá-la em padrão absoluto.
Por melhor que seja a situação presente, ainda assim é
pecaminosa e sempre exige arrependimento. Pode, aliás, retroceder e cair em
apostasia. Na melhor das hipóteses, andará em círculos, sempre voltando ao
ponto de partida.
O
padrão da história da igreja
Em sua grande maioria, as igrejas têm se movido em
círculos ao longo da História. Também podemos dizer que se encontram dentro de
um círculo vicioso. O padrão é constituído por uma queda seguida de um
reavivamento, seguido de uma queda e assim por diante. Não se faz qualquer
progresso verdadeiro. Ao que parece, o máximo que somos capazes de fazer é sair
de uma série de buracos. Essa estagnação pode ser encontrada em toda parte. Não
há nada mais difícil do que conseguir que qualquer aspecto da estrutura ou das
atividades da igreja seja avaliado com honestidade e reformado à luz da Palavra
de Deus.
O verdadeiro progresso implica construir sobre os
alicerces lançados no passado, mas não significa ser avaliado segundo os erros
e imperfeições do passado. O único parâmetro legítimo para a avaliação do
progresso é o das Escrituras. A reforma verdadeira da igreja tem base nas
Escrituras, é feita dentro dos limites das Escrituras e não além das
Escrituras.
Deus
nos chama para reformar a igreja hoje
As agências oficiais, publicações e instituições
eclesiásticas devem refletir o grupo mais representativo da opinião popular
dentro da igreja? Ou devem se mostrar pioneiras na autocrítica denominacional
com base nas Escrituras e permanecer fiéis aos padrões eclesiásticos oficiais
existentes e manter essa linha mesmo que em conflito com o público?
Trata-se de perguntas difíceis e sérias que costumam
ser ignoradas ou descartadas.
Apenas muito raramente tais questões são encaradas.
Antes, a tendência é considerar a situação atual – ou pelo menos as realizações
do passado – como algo normal. Há quem diga que, se pudéssemos voltar à forma
como as coisas eram “nos velhos bons tempos” e manter esse padrão, tudo ficaria
bem.
Mas isso é verdade? Como foi a nossa história? Que
justificativas temos para não haver avançado em nosso entendimento das
Escrituras? O que temos feito? Será que escondemos nosso talento na terra?
Não é difícil reconhecer a existência de alguns males
a serem corrigidos na igreja. Mas a tendência é dizer que se voltássemos às
bases sólidas de uma ou duas gerações atrás, tudo estaria certo. O que mais
alguém pode pedir? Poderíamos nos manter nessa linha até o fim.
A
reforma autêntica busca a honra e a verdade de Deus
Vivemos numa era pragmática, impaciente com a verdade
e preocupada com os resultados práticos. Não há tolerância por aqueles que
valorizam a verdade acima dos resultados. Nossa era anseia por resultados e está
disposta a crer que é possível fazer figos nascerem de espinheiros, desde que,
se acredite que são figos.
O
momento é apropriado?
Quando alguém procura submeter um determinado aspecto
da igreja ao julgamento crítico das Escrituras, há quem objete afirmando que o
momento não é oportuno. Devemos nos conscientizar de que a verdade é sempre
oportuna e necessária e que, se esperarmos por um momento apropriado para
trazê-la à baila, pode ser que isso nunca aconteça. É possível que o tempo
nunca seja conveniente. Pode sempre haver algo a ser usado como justificativa
para não reformarmos a igreja de acordo com a Palavra de Deus.
Deus é o Deus da verdade. Ele é luz e nele não há
treva nenhuma. Cristo é o Rei do Reino da verdade. Nasceu para dar testemunho
da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a sua voz.
A atitude complacente de aceitação da situação atual
como sendo normal é decorrente de um conceito equivocado acerca das Escrituras,
um conceito que não se dá conta do seu caráter absoluto como padrão para a igreja.
Colocar a verdade e a honra de Deus em primeiro lugar e acima de quaisquer
outras considerações requer grande consagração moral. Neste sentido, o
princípio para a igreja e o indivíduo é um só: aquele que perder sua vida por
causa de Cristo a achará.
Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na revistaServos Ordenados, n. 9
Autor
da Lição: J. G. Vos
O reverendo Johannes G. Vos foi pastor da Igreja Presbiteriana Reformada da
América do Norte. Trabalhou como missionário na Mandchúria de 1931 a 1941 e,
posteriormente, lecionou matérias bíblicas no Geneva College durante vários
anos.
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