De acordo com a análise de sessenta estudos científicos, os exercícios, embora essenciais para a saúde, são muito pouco eficazes quando a meta é perder peso
É comum ouvir entre os que frequentam academias de ginástica que
pretendem malhar o dobro na segunda-feira para compensar as refeições
calóricas do fim de semana. Há o senso comum de que o consumo excessivo
de calorias pode ser revertido pelo simples fato de praticar atividades
físicas. E se todo esse esforço tivesse pouquíssimo impacto no
emagrecimento?
Pois a jornalista americana Julia Belluz, especialista da área de
saúde, fez uma análise com base em mais de 60 artigos científicos sobre
exercícios e perda de peso. Julia conversou com nove pesquisadores que
atuam nessa área. A conclusão, publicada no site de notícias Vox,
revelou que, para quem quer emagrecer, a atividade física não é a melhor
solução. Pelo contrário: ela pode passar uma falsa impressão de
eficácia e dificultar a luta contra a obesidade, já que muitas pessoas
se alimentam mal por acreditar que o hábito é reparado pelas horas
extras de malhação.
De acordo com Alexxai Kravitz, neurocientista e pesquisador sobre
obesidade do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH),
dependendo do organismo de uma pessoa comum - excluindo os atletas e os
profissionais que trabalham com atividade física -, é possível queimar
apenas entre 10% e 30% da energia realizando exercícios diariamente.
Deve-se levar em consideração que 100% da energia do organismo vem
por meio dos alimentos. Isso sugere que a melhor solução para perder
peso está no mesmo local onde se inicia todo o processo de engordar: na
boca. Os verdadeiros impactos no corpo são notados quando a pessoa passa
também a administrar melhor quanto consome e que tipo de alimentos está
ingerindo.
Diz o nutrólogo Daniel Magnoni, do Hospital do Coração, em São Paulo:
"A combinação entre dieta balanceada e atividade física é essencial.
Mas não basta apenas reduzir gasto calórico, pois o corpo busca energia
nos músculos -- o que é ainda pior. Mas também não dá para acreditar que
é possível perder peso apenas caminhando meia hora diariamente".
Uma das pesquisas mais interessantes sobre o assunto foi conduzida
pelo antropólogo americano Herman Pontzer, da Universidade Hunter de
Nova York. Ele analisou o comportamento de uma tribo remota da Tanzânia
que vive da caça e da coleta. Durante 11 dias acompanhou os hábitos de
30 pessoas dessa sociedade, coletando informações sobre a queima
calórica de todas elas. As análises foram feitas com o auxílio de uma
técnica que consegue medir a quantidade de dióxido de carbono que é
liberada à medida que o organismo gasta energia.
O pesquisador esperava encontrar resultados que mostrassem que aquela
tribo queimava muito mais calorias do que as pessoas que vivem nas
sociedades modernas, já que o grupo estudado na Tanzânia costumava se
movimentar com frequência durante o dia e era formado por pessoas
magras. Entre as atividades, era comum correr para perseguir animais
durante a caça, subir em árvores, plantar e empilhar alimentos.
Surpreendentemente, o gasto de energia entre os integrantes da tribo
estudados foi o mesmo que é observado entre pessoas dos Estados Unidos e
Europa, que levavam uma vida comum. O estudo, embora pequeno, reforça a
ideia de que a atividade física tem efeitos modestos na perda de peso.
Há também as linhas de pesquisa que analisam o efeito rebote dos
exercícios na alimentação, fazendo uma associação entre a prática de
atividade física e a quantidade de alimentos consumidos. Um estudo
realizado em 2009 por um grupo de pesquisadores americanos revelou que
as pessoas tendem a aumentar o consumo de alimentos após fazer
exercícios -- seja porque acreditam que a queima calórica durante a
atividade foi suficiente para compensar a refeição, seja porque
simplesmente sentiram mais fome. É como se as pessoas superestimassem o
valor da atividade praticada e por isso comessem mais.
Para o fisiologista e matemático Kevin Hall, do Instituto Nacional de
Diabetes e Doenças Digestivas e Renais do NIH, uma fatia de pizza seria
capaz de desfazer todo o esforço adquirido durante horas de exercício.
A importância da atividade física para a saúde, contudo, não é
questionada e se mantém fundamental para um corpo e mente saudáveis. Os
benefícios vão desde a redução da pressão arterial, das taxas de
triglicérides no sangue e dos riscos de desenvolver diabetes tipo 2 até
melhor desempenho em habilidades cognitivas.
Fonte: Veja
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